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HISTORIA DO HIP HOP CRIOULE
HISTORIA DO HIP HOP CRIOULE

 

 






 

Povoação e o Rap

 

Rap Povoação

 

O Rap nasceu em Povoação através da influência de músicas de rappers americanos, portugueses, franceses, entre outros. Muitos gostavam do ritmo, dos temas críticos e alguns começaram a fazer as suas próprias músicas por se identificarem com o estilo, mas, sempre com a conotação de ser apenas um passatempo. Apesar da música Rap ser muito apreciada em Povoação e culturalmente ser parte do quotidiano dos conterrâneos cidade, especialmente dos mais jovens, ela carece de credibilidade entre os seus próprios apreciadores, ficando na sombra de outros estilos musicais.

Segundo informações directas, os primeiros registos desta arte em Povoação foram feitos por Cartol, Nitcha, Beks, Fanky (rest in peace), Djuna e outros mais, mas o primeiro grupo influente de Rap que surgiu em Povoação foi os Kapahala (2004/2005), composto por Vatik, Janecas, Pey, Tio, Faby, Titita, Papy e Tenche. Esse grupo fez algo inédito em Povoação e em Santo Antão em geral, que foi pôr músicas Rap feitas “na town”* a “rodar” em rádios, tanto em Santo Antão como em São Vicente, com destaque para a música Saturação. Nesta altura, entre 2006 à 2007, surgiu outros grupos, impulsionados pelo sucesso regional e, em parte, nacional dos Kapahala. Como por exemplo McGol (que hoje se identifica como GolBeats), G-Rapperz (Nigga Jó, Djô, Vander, Valdo, Janda, Odá e Deny), Revolucionários (Inaldo, Mc Ni, Kri e Anuda), Chain, entre outros.

E assim se dava início a uma onda de lançamentos de músicas Rap, de forma quase consecutiva, com maior destaque para Sofrimento dum mnine (Mc Gol), Dento dum caixão (G-Rappers), Tude essim (Chain) e Caminhada de fé (Revolucionários) considerados autênticos hits naquela, até então, pequena vila que, paulatinamente, foram fazendo parte dos mp3’s dos seus habitantes, a prova do “fanatismo” daquele povo pelo Rap feito “na town” é o primeiro álbum dos G-Rapperz (Hora d’mudança), inteiramente financiado pelos próprios. O Rap estava em alta, ao ponto que me arrisco a dizer que naquela altura o era o estilo musical mais ouvido em Povoação. Apesar de todo o impacto positivo que o Rap estava a causar, os apoios para o desenvolvimento dessa arte eram e continuam a ser muito escassos.

Apesar de todos aqueles mcs, poucos “sobreviveram” às necessidades da vida e muitos viriam a abandonar o Rap, para se concentrarem nos estudos, no trabalho, na família, visto que, até hoje, o rap em Povoação e em Cabo verde não é fonte de rendimentos sustentáveis, por isso, perfeitamente compreensível aquele comportamento. Assim cairia numa fase menos empolgante, coincidência ou não, mas a verdade é que Povoação acompanhou o Rap nesta “caída”, talvez isto seja um exemplo do impacto causado pelo Rap nesta cidade.

Actualmente o Rap em Povoação parece estar a ganhar uma novo alento com o lançamento do primeiro álbum oficial do GolBeats (One Love), com o lançamento de uma demo tape por parte do “New school”* Indzayz12 e com o anúncio do segundo álbum dos G-Rapperz previsto para o verão de 2011. Hoje posso dizer que Santo Antão é a terceira força do Rap cabo-verdiano, atrás de Santiago e São Vicente, digo isso em termos de número de mcs, em termos de qualidade sou meio suspeito para falar pelas razões óbvias. A prova já foi dada uma vez e pode ser dada novamente. O Rap tem o poder de “ressuscitar” Povoação.

Amaral Fortes


*”Na town” – é uma expressão aculturada do Inglês para o Crioulo, muito usado no meio mais jovem, que, traduzindo para o Português, significa na zona.

*”New school” – Outra expressão aculturada do Inglês para o Crioulo, igualmente muito popular entre os mais jovens, que, traduzindo para o Português, significa Nova era, contextualizando, novo no Rap.


 

 








 


 

Hip hop: breve história e introdução ao mundo do rap crioulo

Da janela do meu quarto ouço Rapaz 100 Juíz na rua 5 de Julho com “CV de Oji en Dia” no dia da independência. A única música desses pop rappers da Assomada com alguma consciência político-social, sem ser no entanto corrosivo. 

Olhando para trás, para a história do hip hop, iniciada nos States nos anos sessenta, da herança dos griots - os contadores de histórias, da tradição africana da oralidade - muita coisa mudou. Normal. Vivemos hoje na era alter-moderna, parafraseando Nicolas Bourriaud. 

Já ultrapassámos a época dos motins sócio-raciais nos guetos norte-americanos característicos dos anos sessenta, nos quais se destaca a rebelião de Watts em Los Angeles, em Agosto de 1965. Já se foi o tempo dos discursos inflamados de Malcolm X ou dos Black Panthers. A época do ressurgimento cultural no seio da comunidade negra norte-americana, do protesto e dos poetas pré-rappers Watt Prophets, Last Poets e Gil Scott-Heron, os vovôs do rap contemporâneo. 

 

De África para o Bronx, no porão dos barcos negreiros, passando pela Jamaica e levado à terra do Uncle Sam pelos rude boys (os mesmos por detrás do surgimento da cultura skinhead nas ilhas Britânicas), o hip hop encontra nas block parties dos guetos negros nova-iorquinos, nos anos de 1970, terreno fértil para o seu desenvolvimento e solidificação como cultura de protesto e de rua. Começa assim a era do sound-system e a consagração do DJing, ou seja, do DJ Kool Herc. Sem esquecer, é claro, o DJ Afrika Bambaataa. Do casamento entre a criatividade e ritmo negro e a tecnologia branca, surgem nos finais de 1970 o electro-rap e a era do disco. O MCing pós-vovôs poetas de rua surge mais tarde, trazendo consigo o B-Boying e o Writer, tendo neste último elemento destacado os tags de Taki 183 nos Subways do Big Apple. 

O elemento do hip hop que mais se destacou foi sem dúvida o MC. Da década de setenta a noventa do século passado, a nível de estilos, temos a old school, onde se destacam Afrika Bambaataa (fundador da Zulu Nation), Run-DMC, Roxanne Shanté, LL Cool J e os Beastie Boys. Os profetas da ira, citando Contador e Ferreira, ou o rap radical, a idade dourada do rap, onde se destacam os Public Enemy, KRS-One e os NWA (Niggers With Attitude). Estes últimos vieram desterritorializar o rap para a Costa Oeste. No campo do rap afrocentrista, destacam-se Native Tongues e A Tribe Called Quest. 2 Live Crew, grupo de Flórida, em 1986, inaugura um dos estilos mais polémicos numa América pseudo-puritana, o rap porno. 

O gangsta rap ou reality rap surge em South Central, Los Angeles, no seio da guerra urbana entre os gangues Crips e Bloods, pelas mãos de Ice T, subgénero tornado famoso pelos NWA e mundialmente popularizado por 2 Pac. Este subgénero inspira-se na cultura chicana (americanos de origem mexicana). Nas gangues ou street syndicates chicanas, marcado pelo orgulho da raça e especificidade cultural, tendo como referência o pachuco, símbolo de resistência cultural chicana. Surge assim o gangsta style no rap (vestuário largo e comprido, culto pela marijuana e uso do calão).  

 

A new school, década de noventa do outro século, é marcada pela rivalidade Costa Este/Costa Oeste, onde se destacam os bifes entre Notorious B.I.G. e 2 Pac, e a comercialização da cultura hip hop. Entramos naquilo que alguns consideram a era pós-rap: o trip hop e o jungle. Mas também, para outros, o regresso do rap de protesto, onde se destaca Dead Prez

Em Cabo Verde, mais concretamente nas cidade da Praia e Mindelo, tendo o hip hop sido importado dos States nos finais de 1980, em moldes B-boy, só em meados dos anos de 1990 o rap ganha fama, impulsionado pelas campanhas políticas de 1995/6. Sendo verdade que Heavy H é uma das referências, grupos como Niggaz Badio, Chipi Girls na Praia e Black Company, IPV, Bairro Norte ou PTR no Mindelo podem ser considerados old school… foi o manager Gugas Veiga quem abriu a porta. 

Em 2000, há o boom e o nascimento da geração thug, antes geração yo. O rap chega à periferia dos dois maiores centros urbanos do país, alastrando-se mais tarde para outras regiões (Assomada, Tarrafal, Santa Cruz, Porto Novo…). Em termos de estilos, existe o pop rap (Central Side), o rap kizomba (Djédjé), o gangsta rap (Karaka), o rap radical (GPI-Knowledge), o rap thug (Caixa Baixa), o rap gospel (Nax Beat) e o rap afrocêntrico (HipHopArt). Não se pode falar ainda de um movimento hip hop ou movimento hip hop crioulo mas o rap está vivo e tem alguma consciência. Embora, a maioria é moralista, reproduzindo o discurso dominante sem sequer questionar as causas dos fenómenos que assolam a actual sociedade cabo-verdiana. Nota-se uma enorme necessidade de se alcançar a fama e ganhar dinheiro, tornando-os presas fáceis para os políticos como se viu na campanha legislativa última. No entanto, destacam-se grupos como FARP (Lém Cachorro) e Sindykatto de Guetto (Ponta D’Água) com forte envolvência em trabalhos comunitários…  

 

Muitos são os artistas cabo-verdianos de outros géneros musicais que olham para o rap com algum desprezo e tentam marginalizá-lo. A nível da oralidade pode-se considerar o rap uma versão urbana, sofisticada e contemporânea do finason - um tipo de griot (exemplo aqui). Como espaço de reivindicação político-social, hoje, alguns grupos rap fazem aquilo que o funaná e a morna fizeram nas vésperas da independência. Música de protesto e consciencialização social contra um sistema corrupto, desigual, injusto e violento.    

por Redy Wilson Lima
Palcos | 7 Julho 2011 | Cabo Verde, hip hop, rap crioulo